Friday 4 May 2012

JAPÃO FICA SEM ENERGIA NUCLEAR AMANHÃ


Funcionários de um escritório em Tóquio que usam apenas lâmpadas LED 
e reduzem os consumos ao mínimo
04.05.2012
Helena Geraldes

O último reactor a funcionar no Japão será desligado neste sábado, deixando o país sem nuclear pela primeira vez em 40 anos. Com 54 reactores parados, o Japão receia não ter electricidade suficiente para os picos de consumo no Verão.

Quando o reactor 3 da central nuclear Tomari, na província de Hokkaido, for desligado amanhã às 17h locais (9h em Portugal), o Japão entrará numa nova era. O reactor, o único em funcionamento em todo o país, vai começar um período de 70 dias de trabalhos de manutenção, deixando um vazio nuclear com consequências difíceis de prever.

A última vez que o Japão ficou sem energia nuclear foi em Maio de 1970, quando os únicos dois reactores do país – nas províncias de Ibaraki e Fukui – foram encerrados para manutenção, segundo a Federação das Companhias Eléctricas do Japão, citada pela agência Reuters.

Hoje, o parque nuclear do Japão tem 54 reactores. Antes da catástrofe de Fukushima, causada pelo tsunami a 11 de Março de 2011, aqueles eram responsáveis por 30% da electricidade a nível nacional. O objectivo do país, parco em recursos energéticos, era apostar no nuclear, fazendo subir essa percentagem até aos 50% em 2030.

Mas desde Fukushima a política energética do país mudou. O tsunami danificou profundamente quatro dos seis reactores da central nuclear de Fukushima, causando fugas de radioactividade que criaram o maior acidente nuclear desde Tchernobil, na Ucrânia, em 1986.

Desde então, um por um, os reactores do país foram encerrados. Quatro dos seis que compunham a central de Fukushima encerraram definitivamente depois do acidente. Dos restantes, uma parte está parada para manutenção ou testes de segurança e outra, apesar de já concluídas estas operações, aguardam autorização local para reiniciarem a produção.

Assim, da noite para o dia, o Japão está confrontado com a necessidade de encontrar uma alternativa para suprir 30% do seu consumo eléctrico, que vinha do nuclear, de modo a evitar cortes no abastecimento – que não estão fora de questão este ano.

O Verão é uma das épocas do ano com maiores picos de consumo de electricidade. No ano passado, as companhias de energia impuseram apagões controlados e apelaram à poupança junto dos cidadãos e empresas. A 1 de Maio deste ano, foi relançada a iniciativa Cool Biz, que permite aos funcionários em escritórios do Governo trabalharem sem gravatas e arregaçar as mangas, para enfrentar o calor sem ares condicionados. As empresas adoptaram formas de poupar electricidade, como as lâmpadas LED.

Resta saber como será o Verão que se avizinha. Em 2010 e 2011, as temperaturas foram mais elevadas em relação à média. Mas foram mais baixas do que a média no Verão de 2003, quando a Tokyo Electric Company (Tepco) – responsável pela central de Fukushima – foi obrigada a desligar os seus 17 reactores por causa de um escândalo relacionado com falhas técnicas.

Populações pouco convencidas

Em Abril, vários ministros tentaram convencer as populações a permitirem a reabertura de dois reactores na central de Ohi, operada pela Kansai Electric Power Company. O Governo do primeiro-ministro Yoshihiro Noda garante que ambos os reactores cumprem as exigências de segurança. Mas os habitantes locais ainda não estão convencidos.

De acordo com uma sondagem da agência nipónica de notícias Kyodo, do último fim-de-semana, cerca de 60% dos inquiridos opõe-se à entrada em funcionamento daqueles dois reactores. E a maioria dos autarcas onde se localizam as centrais quer mais garantias de segurança, para além dos testes impostos pelo Governo. Em Abril, autarcas de 35 províncias criaram um fórum para defender o abandono completo do nuclear.

No imediato, a única opção viável são as centrais térmicas a gás e a carvão. O país quer também acelerar a introdução das renováveis, de modo a atingirem 20% do consumo já em 2020. Actualmente, as renováveis respondem por apenas 10% da produção de energia no país, a maioria a partir de barragens. A energia eólica e solar representam, juntas, 1%.

Não é claro até quando vai durar este vazio nuclear. Mesmo que alguns reactores voltem a funcionar, “5 de Maio é o início do fim”, disse ao Wall Street Journal Iseko Shirai, 76 anos, activista contra o nuclear, que está acampada há vários dias em frente do Ministério da Indústria e em greve de fome até que o último reactor seja desligado.

“Poderá este ser o fim do nuclear? Sim, pode”, disse Andrew DeWit, professor na Universidade Rikkyo, em Tóquio, à Reuters. “Se conseguirmos passar o Verão sem reactores, que provas terão os defensores do nuclear da necessidade desta energia?”

Mas esta não é a opinião de Takeo Kikkawa, professor da Universidade de Hitotsubashi, para quem. abandonar o nuclear não deve ser uma opção para o Japão. "Vai existir menos emprego e a economia vai continuar numa tendência de abrandamento”, disse à Reuters. As importações de combustíveis fósseis, para colmatar o vazio nuclear, serão ainda um peso para as contas nacionais.



JUIZ CRITICA EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE RENATO SEABRA

O julgamento de Renato Seabra, acusado do homicídio do colunista Carlos Castro em Nova Iorque, continua sem data de início e, criticou hoje o juiz Charles Solomon, está «muito atrás dos padrões e objectivos do tribunal».
  
Em nova audiência do caso no Tribunal de Nova Iorque, a procuradora Maxine Rosenthal voltou a alegar ter dois outros casos em mãos – um homicídio e outro de violação – com precedência sobre o de Renato Seabra, para escusar-se a avançar hoje com a marcação da data de início do julgamento, conforme estava previsto.

Após a exposição da procuradora e vários alertas do juiz, Solomon acabou por marcar para 04 de Junho nova sessão em que deverá ser agendado o início do julgamento, determinando que, se entretanto algum dos outros dois casos não chegar a julgamento, a procuradora deve notificar o tribunal e a defesa de imediato.

«Não posso, nesta fase, forçá-la a estar preparada», disse o juiz, perante a insistência do advogado de defesa, David Touger, que afirma há meses estar preparado para o julgamento.

O caso de homicídio do colunista português, em Janeiro de 2011, está «muito atrás dos padrões e objectivos do tribunal», em termos de conclusão, afirmou Solomon.

O juiz adiantou que quer que o julgamento arranque «pouco depois» da próxima audiência, mas é possível que a procuradora volte a alegar falta de tempo para se preparar convenientemente.
Com as férias judiciais, normalmente em Agosto, a aproximarem-se, aumenta o risco de que o julgamento só tenha lugar no Outono, quase dois anos depois dos factos.

Em anteriores audiências do caso, o juiz Solomon tinha apontado Abril ou Maio como horizonte para arranque do julgamento.

Uma das tarefas em mãos, depois das audiências sobre os materiais de prova, será a selecção do júri de 12 pessoas, de entre um lote de 160, por comum acordo entre os dois advogados e o juiz, processo que poderá demorar até uma semana.

O julgamento deverá durar entre 2 e 3 semanas, um período que o advogado de defesa considera longo, para o que é habitual.

A defesa sustenta que o jovem deve ser considerado «não culpado por razões de doença ou distúrbio mental» e mostra-se confiante que esta tese vai prevalecer perante um júri, quando o julgamento arrancar, escudando-se em relatórios psiquiátricos.

Todos os elementos pedidos pela acusação à defesa já estão na posse de Touger, incluindo os testes realizados pelo psiquiatra que concluiu que Seabra estava na posse das suas faculdades mentais no momento do crime, contrariando a tese da defesa.

O advogado de defesa recebeu da procuradora um disco externo com horas de imagens de Seabra e Castro, em vários pontos do hotel onde ficaram - lobby, elevador, recepção e até no restaurante.
Também nas mãos da defesa estão já os testes de ADN do quarto de hotel, que vão servir para determinar a quem pertencem amostras de sangue recolhidas no local do crime.

Seabra está acusado de homicídio em segundo grau pela procuradoria de Nova Iorque.
A demora na entrega de elementos e no arranque do julgamento motivou acesas discussões na sala de audiências entre defesa e acusação, levando o juiz a declarar-se «frustrado» com o andamento lento do processo.

O caso remonta a 7 de Janeiro de 2011, quando Carlos Castro, de 65 anos, foi encontrado nu e com sinais de agressões violentas e mutilação nos órgãos genitais no quarto de hotel que partilhara com Renato Seabra em Manhattan.

O jovem continua na prisão de Rikers Island, por decisão do departamento penal de Nova Iorque, medicado e sujeito a vigilância médica.

Segundo uma fonte ligada ao processo, o jovem português foi recentemente transferido de uma camarata para uma cela individual, dado o longo período, cerca de um ano, que já leva na prisão.

Lusa/SOL   


Monday 30 April 2012