Sunday 7 August 2011

MONTEIRO DE BARROS: CASO DA REFINARIA DE SINES FOI DOS MAIS DESAGRADÁVEIS QUE PASSEI NO PAÍSDESAGRADÁVEIS

“Os negócios são para se fazer e não gosto de perder muito tempo”, diz o empresário.

Reconhece que é duro na hora de tomar decisões, porque, diz, não ter tempo a perder. Mas o empresário Patrick Monteiro de Barros recusa ser apelidado de forreta, até porque sabe recompensar um bom funcionário. Quanto aos negócios não esquece os dissabores da privatização da Petrocontrol e da recusa do projecto de Sines.

Dizem que é duro e carismático nos negócios. Identifica-se com este perfil?

Não. Duro, porquê? Os negócios são para se fazer.

Referem-se à dureza, talvez, associada a um pulso firme.

Ah, isso está bem. Não sou mole. Os negócios são para se fazer e não gosto de perder muito tempo. Estar horas e horas a discutir o sexo dos anjos não vale a pena.

Também já o apelidaram de forreta. Diziam que, na Petrogal, contava todos os tostões e que avaliava as coisas ao milímetro.

Discordo, totalmente, dessa classificação. Até me sinto quase ofendido.

Então?

Sou conhecido por ser uma pessoa extremamente generosa. Principalmente com os meus quadros. Tenho pessoal, aqui em casa, que está comigo há trinta anos. Se não estivesse contente não ficavam.

E nos negócios?

Forreta, não. É preciso ter respeito pelo dinheiro. Não admito esbanjar, gastar um euro a mais daquilo que se deve. Os resultados chegam ao fim do ano, são bons, sou o primeiro a dizer: "Sim senhor, aqui está um bom bónus". Generoso.

Essa é a única forma de estar nos negócios?

O exemplo vem de cima. Numa organização não se pode ter tudo controlado e depois, no topo, ser tudo à vontade. Esse é o primeiro ponto. O segundo - por isso tive vários problemas em Portugal -, um administrador responde perante os accionistas. Tem a obrigação de defender o interesse dos accionistas. E quando digo defender é gerir a empresa, de uma forma perfeita e económica. Prefiro pagar mais duzentos mil euros a um quadro superior que mereça, do que assistir a certas cenas como três carros, três motoristas. Isso é, completamente, inadmissível.

Quanto aos dissabores que disse ter tido em Portugal. Um deles foi a questão da Petrocontrol. O outro talvez tenha sido, mais recentemente, com Sines?

A Petrocontrol não foi um dissabor, foi uma privatização extremamente difícil, que correu mal desde o início. Houve factores em que o Governo de então teve responsabilidades. Um deles foi a Expo. É muito bonito uma pessoa comprar uma companhia e depois vem a Expo e leva-lhe tudo. A minha desilusão foi quando o Governo de então decidiu que considerava estratégico fazer entrar os italianos e que nós não podíamos aceder à maioria.

Foi aí que se desiludiu, completamente, com os decisores em Portugal?

Depois tivemos o caso da refinaria de Sines e para esse, então, não há palavras. Para mim, foi dos episódios mais desagradáveis que passei neste País. Francamente, depois de tudo o que fiz há um primeiro-ministro que vai para o Parlamento do meu País dizer: "Este senhor queria vender gato por lebre", para encobrir a incompetência do seu ministro? E o mais grave disso tudo não foi só essa frase que acho, absolutamente inadmissível. O mais grave é que todos os partidos pediram a minha presença no Parlamento, desde o Bloco de Esquerda até ao CDS e o partido do primeiro-ministro vetou a minha ida.

Lamenta que não o tenham ouvido?

Sabe o que se passou, depois. Na conferência de imprensa que dei, depois do período de confidencialidade, ficou claro que o senhor ministro Manuel Pinho não queria cumprir com aquilo a que se tinha comprometido.

Alda Martins

07/08/11 06:30

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