Thursday 20 January 2011

A VIDA DUPLA DE RENATO SEABRA


Nuno Santos, Diogo Costa, Tiago Jacob, Nuno "Manga", Thomas Negrão e João Nuno comentavam com Renato Seabra as conquistas, o basquetebol, a moda, o futuro, tudo! Mas só no dia do crime descobriram quem era "a pessoa influente" que o ajudava e que parecia esconder.

No dia 22 e 23 de Dezembro, Renato Seabra esteve em Cantanhede com Nuno Santos, Tiago Jacob, Diogo Silva e falou com outros amigos ao telefone. Matavam-se saudades, uma vez que estudavam em cidades diferentes, contavam as novidades e até estavam a pensar em fazer a passagem de ano todos juntos em Cantanhede. O manequim avisou logo que não podia. "Disse-nos que ia para Nova Iorque trabalhar e até gozámos com ele porque disse que ia ver um jogo da NBA, estava todo contente", recorda Nuno Santos, estudante em Leiria.

Este aluno não lhe perguntou com quem ia. "Ele também nunca disse", responde Santos. Porém, sabe agora que Renato dificilmente lhe diria uma vez que um outro companheiro de infância, Tiago Jacob, tê-lo-á inquirido sobre quem o acompanhava e a resposta não poderia ser mais lacónica: "O Tiago disse-me que ele apenas respondeu que ia com uma pessoa muito influente, nunca disse o nome". No fatídico sábado, Nuno Santos recorda que foi João, em Erasmus na Suíça, quem o acordou para lhe dar a notícia e, embora já tivessem ouvido falar de Carlos Castro, foram saber mais. "Sabia que era uma pessoa do social, homossexual, mas não sabia que tinham uma relação de amizade." Diogo Costa e Isa, a amiga especial do manequim, já tinham afirmado o mesmo à comunicação social. Por outras palavras, Thomas Negrão, a estudar em Coimbra, reitera a mesma verdade. "Só descobri na manhã do crime que eles se davam. Aliás, nem sequer sabia quem era esse Castro porque não vejo revistas. Nós falávamos de tudo desde pequeninos, mas agora só sabia que a vida na moda estava a correr bem."

O ex-treinador de basquetebol de Renato Seabra, Fernando Guimarães, falou com o manequim na semana antes da viagem trágica a Nova Iorque e repete a mesma informação. "Encontrámo-nos, ele disse-me que ia em trabalho, mas nem comentámos com quem ia", recorda este técnico do Sport Clube Conimbricense. Profundamente abalado, João Nunes, amigo dos tempos de faculdade e de desporto, desfia a mesma história. Mas desta vez volta atrás no tempo. "Estou incrédulo. Quando ele esteve em Londres, eu estava em Erasmus em Glasgow e até sugeri encontrarmo-nos. Ele disse logo que não podia porque estava em trabalho. Não dava..."

Sentiria Renato Seabra constrangimento em falar desta amizade aos amigos? "Não vejo porquê!", exclama Nuno Santos. "Nunca tivemos vergonha de dizer nada uns aos outros, falávamos sobre tudo, até podíamos gozar um bocado, mas eram as nossas brincadeiras", sustenta este aluno. Thomas, amigo de infância, revela a mesma estupefacção: "Qual era o problema em nos dizer? Não faz sentido."

Pois não! E esta bem podia ser a declaração do cunhado do manequim, José Malta, farmacêutico. "Os amigos não sabiam? Estiveram todos juntos antes do Natal... Se calhar, presumiram que fosse com alguém da agência. Se calhar o Carlos Castro dizia que não precisava de falar com ninguém, nem com a Fátima Lopes, e ele não disse nada. Se era vergonha? Não faço ideia se tinha e, se tinha, não percebo."

"Eles dormiam em camas separadas"

Na verdade, só a família sabia do relacionamento e José Malta relata agora à Notícias TV como é que Renato e Carlos Castro estreitaram laços, pouco tempo depois de ter terminado o programa da SIC À Procura do Sonho, em que o jovem foi finalista. "Surge o convite do Carlos Castro, que o tinha visto na Fátima Lopes, que ele tinha potencial e que gostava de tomar um café com ele."

E assim foi! Odília Pereirinha leva o filho ao Porto e é lá que manequim e cronista social travam o primeiro contacto. "O Renato, na altura, perguntou à família o que achava e lembro-me perfeitamente de o Renato dizer que foi aconselhado a não perder esta oportunidade..." Enquanto desfia a história, José Malta sublinha que houve reservas relativamente a esta proposta de auxílio que foram discutidas no seio familiar. "A primeira era perceber o porquê desta aposta, o que queria em troca... A minha ideia era a de que queria fazer um contrato, tal como acontece com a Fátima Lopes", diz o farmacêutico. E segue: "Houve outra reserva, a de que eventualmente o sr. Carlos Castro pudesse ter alguma expectativa em relação a Renato, sendo homossexual. A partir do momento em que ele [o cronista] disse que não havia problema, porque era relação profissional, nós confiámos."

Quando ia a Lisboa, Renato Seabra declarava à família que ficava em casa de Carlos Castro e que nas viagens a Madrid e Londres - revela agora José Malta - "dormiam em camas separadas". Nuno Santos, o amigo, recorda que o manequim lhe dizia que quando ia à capital "ficava em hotéis". E nem estranhava quando não atendia o telefone. "Ele sempre foi assim, só respondia às chamadas horas depois, mas às vezes ia a Lisboa e dizia-nos que deixava o telefone em Cantanhede."

José Malta conta que os contactos eram diários e mais do que uma vez. "Quando ia a Lisboa, em curtas estadas, dizia que estavam as irmãs do sr. Carlos Castro, que eram pessoas boas e simples. Estava sempre contactável, inicialmente no telemóvel dele, e falavam duas ou três vezes por dia. Quando foi a Madrid e Londres, já havia confiança suficiente para ligar do telefone do Carlos Castro, era como se a mãe ligasse para um agente. Mas em 100 conversas com o filho, cinco foram para o Carlos."

Ninguém entende o crime

Agora, Cantanhede está estupefacta com o que Renato Seabra confessou ter feito a Carlos Castro no quarto do hotel Intercontinental, em Times Square, Nova Iorque. Aguardam uma justificação muito forte. "Ele era muito pacífico, até no jogo evitava o confronto", diz o amigo Thomas Negrão. Tanta agressividade e tão pouca explicação, sobretudo porque os amigos dizem que o manequim não tinha qualquer aversão à homossexualidade. "Nunca tomou nenhuma atitude radical em relação a isso", diz João Nunes. "Para fazer aquilo, só podia estar sob efeito de substâncias", adianta este estudante, cujas palavras encontram eco na voz de Nuno Santos. "A primeira coisa que pensei é que ele tivesse sido alvo de uma tentativa de violação, não entendo, sobretudo porque ele é muito inteligente, muito forte psicologicamente e era muito difícil dobrá-lo", conta.

O silêncio toma posição quando confrontados com afirmações como "Já não sou gay!" ou "acabar com o vírus". "Essas frases é de quem entra e finalmente consegue libertar-se", diz Luísa Reis, amiga da mãe do manequim e visita da casa. Os amigos não entendem: "Ele jamais seria homossexual, ele tinha muitas amigas", insiste Nuno Santos. José Malta concorda e até diz que "antes do Natal esteve a passar um fim-de-semana com uma amiga numa casa da família, na praia de Mira".

Thomas afirma não reconhecer Renato nessas palavras. "Isso nem é conversa dele, desabafa. Ele estaria muito alterado." Os amigos estão já a organizar-se para irem a Nova Iorque, aos Estados Unidos da América, apoiar o amigo. "Em Fevereiro, quando estivermos livres de frequências, queremos estar com ele. Tentar acompanhar o julgamento", revela o estudante de Leiria.

Por Carla Bernardino

http://www.jn.pt/revistas/ntv/Interior.aspx?content_id=1755328

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