Sunday 9 January 2011

NINGUEM QUER ACREDITAR EM CANTANHEDE

Colunista social assassinado em hotel de Nova Iorque

Renato Seabra, um rapaz normal, bom aluno e desportista, que gosta de ver novelas acompanhado pelas irmãs

Na cidade onde nasceu Renato Seabra, e na sua agência, misturam-se o espanto e a impressão de que tudo parece um “filme”.

Pouco passa das 17h e os cadetes do Basquetebol Clube de Cantanhede (BCC) perdem, em casa, com o Olivais de Coimbra. Ainda em Novembro último, o jovem modelo Renato Seabra, principal suspeito da morte do cronista social Carlos Castro, em Nova Iorque, esteve neste pavilhão a treinar com a equipa sénior. Foi também a poucos metros dali que Renato Seabra concluiu o secundário, seguindo-se a licenciatura em Desporto, na Universidade de Coimbra. Durante este ano lectivo, o jovem de 21 anos está a tentar concluir a última cadeira da licenciatura, ao mesmo tempo que trabalha como modelo.

Um colega de equipa de quando Renato Seabra jogava no BCC nem quer acreditar na notícia de que todos falam, durante a tarde pacata da cidade de Cantanhede. “Parece uma daquelas cenas de filme”, diz, com ar pensativo. De sapatilhas e roupa desportiva, não compreende o que se passou. “É um tipo normal, calmo, mesmo a jogar basquetebol, e era um bom jogador.” Procura uma explicação: “Deve ter tido razões muito fortes para fazer aquilo.”

O ex-companheiro de equipa assegura que não notou nada de diferente no colega de balneário depois de Renato Seabra ter sido fi nalista do concurso da SIC À Procura de Um Sonho, promovido em conjunto com a agência de modelos Face Models de Fátima Lopes. Já quando questionado sobre o relacionamento do modelo com raparigas e rapazes responde sem hesitar: “Sempre deu a entender que gostava de raparigas, como todos nós”, acrescentando que nunca notou nada que pudesse indicar uma eventual inclinação para pessoas do mesmo sexo.

Um jovem calmo

A criadora de moda Fátima Lopes, cuja Face Models representa o manequim de 21 anos na sequência do concurso da SIC, recorda ao PÚBLICO como “toda a equipa tem a melhor impressão dele: desde a [ex-modelo] Fiona ao [professor de passerelle no À Procura de Um Sonho] Crispim, que lhe deram aulas”. “E todos achámos engraçado e diferente o facto de ele ter dito que gosta de ver novelas com a irmãs”, recorda a estilista.

Depois de ter falado ontem com alguns dos participantes no concurso da SIC, no qual Renato Seabra foi um dos três finalistas, não conquistando o primeiro lugar, Fátima Lopes indica que todos lhe disseram que “o Renato não era homossexual, se o era escondeu-o de toda a gente”. E todos desconheciam, tal como a criadora de moda, qualquer relação com o cronista social Carlos Castro.

Em Cantanhede, outro jovem que foi colega de Renato Seabra na escola secundária da cidade e depois na licenciatura de Desporto, em Coimbra, descreve-o como “um bom aluno, mais no liceu do que na faculdade, mas mesmo assim bom aluno”. Quanto à maneira de ser, “é uma pessoa extremamente calma, brincalhona quando está a praticar desporto”. Por isso este colega de estudos diz-se “chocado” com as suspeitas que recaem sobre o jovem de Cantanhede. “Para ter feito uma coisa assim, houve qualquer coisa por trás”, garantiu o jovem, que preferiu não ser identifi cado.

Em Cantanhede, as pessoas dizem conhecer Renato Seabra, lembram-se dele dos desfiles de moda organizados pelas lojas locais, mas não se alargam em comentários.

A mãe de um jovem de 21 anos que teve um percurso académico e desportivo semelhante ao de Renato Seabra – iniciaram-se ambos no basquetebol por volta dos nove anos de idade – começa por dizer que não pode falar, mas acaba por declarar: “É um menino normal, como o meu, que gostava das raparigas e até andava atrás da Beatriz, que tem a mesma idade.”

“Nunca entrou em conflitos”

A mãe garante que Renato Seabra “nunca entrou em conflitos” e que ele e o seu filho “davam-se bem”. “Ele queria ser modelo. Tenho uma boa imagem dele.” De tal forma que não queria crer no que ouvia no momento em que soube do homicídio de Carlos Castro. “Quando disseram, na televisão, que tinha sido o Renato Seabra de Cantanhede eu disse para mim: ‘Não pode ser, impossível.’”

09.01.2011 - 11:32 Por Aníbal Rodrigues, Maria Antónia Ascensão

http://www.publico.pt/Media/renato-seabra-um-rapaz-normal-bom-aluno-e-desportista_1474301


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