Friday, 28 November 2014

DOENTE COM CANCRO ABANDONADA À PORTA DE UMA IGREJA


Foi longa a espera de Rosa. Doente de cancro, com graves problemas de mobilidade, esta mulher de 46 anos teve nesta segunda-feira alta do Hospital Joaquim Urbano, onde lhe trataram mais uma infecção respiratória e a deixaram sair, mesmo sabendo que, naquele dia, ela não tinha uma casa para onde ir. Metida sozinha num táxi, foi parar, desamparada, às escadas da igreja do Carvalhido, na rua onde o marido arruma carros. Aguentou-se ali, deitada, umas cinco horas, até ser transportada pela polícia para um quarto numa pensão de Cedofeita, arranjado pela mesma Segurança Social que lhes cortara o rendimento social de inserção, deixando-os sem capacidade de pagar uma renda.

Felizmente está sol, reparava Paulo Natividade. É o amigo. O amigo que Armindo tem tido desde que a droga, o desemprego e a espiral descendente, contra a qual vai lutando, fizeram dele o arrumador de carros “oficial” da Rua da Prelada. E o amigo que não calou a indignação pela forma como naquela segunda-feira o Hospital Joaquim Urbano deu alta a uma mulher que não tinha, sabiam disso, para onde ir. Armindo tinha-os avisado de manhã. “Fiquei sem casa. Aguentem-na aí até eu resolver o problema”, pediu ao telefone a um médico, à frente de Paulo. Às 14h, quando lá chegou, já ela não estava. Saíra num táxi. Pago, por “pena dela”, pelo director de Serviço de Pneumologia, explicou ao PÚBLICO o assessor de imprensa do Centro Hospitalar do Porto.

“Ela queria sair. O médico avisou-a do problema da casa, mas a senhora disse que tinha familiares no Carvalhido e deixaram-na sair”, insistiu a mesma fonte, garantindo que, neste caso, não poderiam forçar a intervenção da Segurança Social. Não era a primeira vez que Rosa entrava e saía daquele hospital. Soma outros problemas de saúde ao cancro que, segundo a família, lhe deixa pouca esperança de vida, e “não é uma doente fácil”. Mas Armindo não entende porque cederam e não esperaram que chegasse, tendo em conta a sua condição física débil e as dores que a obrigam a tomar morfina, entre vários outros medicamentos cujo custo não conseguem suportar. Foi deixada por um taxista nas escadas da igreja do Carvalhido às “portas do céu”, como se lê numa parede, e foi um irmão dele, Joaquim, que a descobriu assim, desamparada.

Armindo estava ainda no hospital, quando o irmão lhe telefonou. Pediu ajuda ao seu outro “irmão” Paulo Natividade, que trabalha naquela mesma rua e que acabou por passar a tarde ali, com eles. Pessoas foram chegando, incluindo o pároco responsável pela igreja cuja entrada ostenta uma imagem de Cristo e um mapa da Europa, mostrando a distância entre o Porto e Jerusalém, a Terra Prometida. Segundo o amigo, o sacerdote disse-lhes que procurassem apoio na junta de freguesia e, perante os apelos de quem ali estava, pediu ao sacristão que lhes arranjasse um cobertor. Depois, celebrou-se missa, e os fiéis foram saindo, indiferentes, a maioria deles, ao que ali se passava – deixando ainda mais indignadas duas funcionárias do lar de Monte dos Burgos, Maria Nogueira e Ana Sousa que, ainda de farda, amparando Rosa, quase davam àquele escadório um ar de hospital em hora de visitas. Houvesse conforto…

Ainda assim, alguns paroquianos aproximaram-se, perguntaram, ajudaram. Um euro, dois. Um paliativo para aquela família, com um filho dependente, de 16 anos, que perdeu o rendimento social de inserção, no valor de 408 euros. O rapaz deixou a escola, “para cuidar da mãe”, mas Armindo não sabia explicar se fora esse o motivo do corte. Conhecia, isso sim, as consequências dele. O senhorio do “apartamento” onde dormiam, na Rua Álvares Cabral, fechou-lhes a porta da casa. Trabalha com dinheiro à vista, sem recibos. “Só me deixa entrar se eu lhe pagar 400 euros”, queixava-se o antigo motorista, que, ao mesmo tempo que luta para se afastar da droga que lhe “estragou a vida”, convivia, naquela casa partilhada por outros inquilinos, “com um “ambiente pesado, tentador” para um ex-toxicodependente.

Os haveres deles ainda estavam, nesta terça-feira, todos lá dentro. Nas escadas, na segunda-feira, Rosa vestia a roupa com que saíra do hospital e aguentava, mal, a espera. Dois agentes da polícia, chamados ao local, já tinham há muito pedido ajuda, ligando para o número de emergência social, quando, passavam das 19h, receberam a indicação de que havia para a família um quarto numa pensão, em Cedofeita. E foi deitada nos bancos traseiros do carro patrulha da PSP que esta mulher, a quem foi detectado há um ano um cancro no pulmão, foi levada. O cobertor que lhe arranjaram nas escadas da igreja foi útil para conseguirem levá-la, de novo escadas acima, até um segundo andar, onde esta terça-feira foi já visitada por uma assistente social – que ficou de ver o que se passou com o processo do rendimento social de inserção e de procurar uma solução de habitação para esta família que, durante uma tarde, deixou, às portas do céu, um exemplo vivo de como a vida pode ser um inferno.

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/uma-tarde-com-rosa-na-escadaria-dos-expostos-1634886
 

Thursday, 27 November 2014

CADELA ESPERA PELO DONO FALECIDO NO HOSPITAL HÁ UM ANO

Sibéria: Cadela espera há um ano por dono que faleceu

Quarta-feira, 26 de Novembro de 2014
 
 
 
Masha, uma cadela rafeira com pelo cor de mel, não abandona o hospital onde o seu dono morreu, há mais de um ano. Os funcionários e doentes daquele hospital, na Sibéria, acabaram por adotar o animal, a quem oferecem carinho e comida.
 
Masha já é famosa no Hospital Number One, em Koltsovo, onde já tem uma cama para dormir e alimento diário. Apesar do conforto, a cadela mantém uma expressão desgostosa, provavelmente por não conseguir encontrar o seu dono, pelo que os elementos do hospital estão agora a tentar que Masha seja adotada por uma nova família.

"Podemos ver nos seus olhos como está triste – não têm o brilho habitual que se vê no olhar dos cães. Consegue-se perceber a tristeza, tal como acontece com as pessoas”, explicou o médico Vladimir Bespalov ao jornal The Siberian Times.

"Não há mais nada que possamos fazer por ela mas esperamos que em breve a Masha encontre um novo dono em quem confie”, acrescentou.

Masha deslocou-se à receção do hospital todos os dias, após o seu dono dar entrada naquela unidade há dois anos atras. A cadela foi a única companhia do idoso durante o tempo em que esteve internado, sendo que apos a ‘visita’ Masha corria até casa, a alguns quilómetros de distância, para proteger a residência dos donos, regressando ao hospital no dia seguinte.

O homem acabou por falecer, há cerca de um ano, mas Masha não desiste de esperar por ele. Um das enfermeiras conta que, recentemente, uma família tentou adotar a cadela, mas Masha fugiu o voltou para o hospital.