João Vaz sofreu danos no ouvido com violência física
Vítima do Colégio Militar "quebrou a Regra do Silêncio"
Testemunhas confirmam o “terror” vivido no ano letivo 2006/2007 e início de 2008 por parte dos graduados, que puseram as vítimas de parte por denunciar abusos sofridos.
Na tarde de hoje, no Campus de Justiça, em Lisboa, deu-se uma nova sessão de julgamento face ao caso dos maus tratos no interior do Colégio Militar por parte de oito ex-alunos a três estudantes, menores na altura.
O julgamento começou com as declarações de Rita Silva, médica neurologista que tratou dos ferimentos de João Vaz quando este chegou ao hospital. A médica garante que os danos causados ao ouvido do João só poderiam ter acontecido com uma “chapada em concha”. A médica declara ainda “o João esteve sete anos a ser acompanhado no Hospital Dona Estefânia por causa de cefaleias constantes”, na sequência de ter furado um tímpano quando levou uma bofetada.
Já Pedro Antunes, um antigo colega de turma e camarata de João explica pormenorizadamente o que aconteceu ao seu colega. “O João foi levado para a casa de banho pelos colarinhos, pelo Rui Capicho e o Garcia. Ouvia-se eles a gritarem e o João também a gritar, como se o estivessem a aleijar. O Capicho calçou a luva castanha e deu um estaladão ao João”.
A testemunha contou que depois das agressões terem sido expostas, os graduados puseram de parte o João. “Eles diziam que o João tinha ido contar aos pais e que estava a prejudicar a imagem do colégio e a trazer problemas”, explica. Naquela escola existia a “Regra do Silêncio” e não poderia ser quebrada.
Acrescenta que eram tratados como “montes de m… ou baldes de m…” e era frequente serem castigados. Existiam dois tipos de castigo, os graves e menos graves. Os primeiros consistiam em levar com badarfos e os segundos, teriam que fazer séries de 50, 60 flexões. Pedro conta que não poderiam recusar os castigos porque seriam aplicados castigos piores.
No entanto, não fora apenas João, André e Bruno e a sofrer agressões. Também Pedro diz ter sofrido agressões quando um dia um dos arguidos bateu-lhe com uma moca na perna.
Mas, as alegações de Pedro vão ainda mais longe quando afirma “os professores sabiam do estado de saúde do João e nunca se questionaram”. Os graduados tentavam esconder o que se passava: “Quando algum oficial, comandante ou alguém da Direção do Colégio aparecia e nós estávamos a fazer flexões, os graduados mandavam-nos levantar mas, logo de seguida mandavam-nos encher novamente”, afirma.
Sem um pouco de esperança que as coisas possam mudar no Colégio Militar, Pedro revela “assumíamos que eles tinham esse poder porque quando eles eram mais novos tinha sido assim, connosco foi assim e será sempre assim com os alunos que virão”, revela.
Ainda uma das testemunhas que deveria ter sido hoje ouvida, não compareceu. O Capitão Pinto Pereira, oficial do Exército que desempenhava funções de comandante de companhia do Colégio Militar em 2007 e 2008, deveria ter estado presente na audiência de hoje contudo, o tribunal não o consegue notificar desde dezembro, apesar de três tentativas já terem sido feitas. Uma nova sessão foi marcada para 7 de novembro.
Por:Zahra Jiva