Saturday, 18 January 2014

BULLYING: O SUICÍDIO DO NELSON

 

"A escola achou que eram coisas de canalha"

 Publicado em 2014-01-15
EMÍLIA MONTEIRO
 
 "A escola vai ficar mal neste filme", disse ao JN o padre José Costa, pároco de Adaúfe, a freguesia onde Nélson Antunes vivia com a família. "Alguns colegas da escola alertaram para o facto do Nélson ser constantemente maltratado por um grupo de jovens", afirmou o sacerdote. "Sei que foram dados sinais de alerta e que a escola não os terá valorizado. Ele não se queixava, resignava-se mas alguns colegas revoltaram-se com a situação e falaram com professores e responsáveis da escola mas, pelos vistos, a escola achou que eram coisas de canalha e não ligou", disse o pároco de Adaúfe.
 
 José Costa conhecia bem o jovem de 15 anos. Foi ele que o batizou e foi em Adaúfe que frequentou a catequese até ao sexto ano. Foi também o padre José Costa que esta terça-feira lhe fez o funeral e, na curta homilia, disse às mais de 100 pessoas presentes na missa que o jovem tinha deixado a comunidade "em condições inquietantes".
 
 "Cada um que pense no que pode ter causado esta situação e esta morte. Não para julgar mas para evitar outros casos", referiu.
 
 Jovem de poucas palavras
 
 Nélson vivia com a mãe, um irmão mais novo e uma meia-irmã, mais velha. O pai era emigrante mas ainda estava em Braga a passar férias. De poucas palavras, o jovem contou à família (e os amigos confirmaram) que, há dias, num intervalo, um grupo de colegas o tinha despido num intervalo. "Ele ficou em cuecas, apanhou a roupa, vestiu-se e foi para as aulas sem dizer nada", recordou um colega de turma que relatou, posteriormente, a situação a um professor.
 
 Com os telemóveis e o seu misterioso desaparecimento, o silêncio reinava. "Ele dizia que os perdia mas toda a gente sabia que alguém os roubava", frisou outro colega presente ontem à tarde no funeral.
 
 Na Escola EB 2/3 de Palmeira, o jovem recebia acompanhamento psicológico para o ajudar "nos problemas de falta de atenção" que foram sinalizados nas aulas. "O Nélson era um rapaz diferente, que não reagia às piadas que faziam sobre ele e que não se interessava muito pelas aulas", disse ao JN uma docente da escola coordenada por Fausto Farinha, antigo responsável da Direção Regional de Educação do Norte (DREN).
 
 

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