Monday, 30 January 2012

PATRICK MONTEIRO DE BARROS - A INSOLVÊNCIA DA PETROPLUS


28/01/2012 | 00:00 | Dinheiro Vivo

Patrick Monteiro de Barros
Paulo Araújo


É o português mais parecido com um magnata do petróleo americano. Apesar de ter nascido em França numa família já abastada, Patrick Monteiro de Barros fez fortuna nos Estados Unidos, para onde emigrou nos anos 70 depois de as nacionalizações o terem afastado da petrolífera de Manuel Bullosa, a Sonap, onde era administrador. Vinte anos depois estava de volta como acionista da Petrogal.

Não obstante a ligação ao petróleo, é a defesa do nuclear que mais atenção lhe tem dado por cá. Nem o desaire da Petroplus o impediu de vir a Portugal dar entrevistas e a uma conferência em que apontou a opção nuclear como a resposta para "o desastre económico da política energética do governo de Sócrates".

À pergunta de Mário Crespo, na SIC Notícias, sobre os efeitos da crise nuclear no Japão resultante do sismo e do tsunami que atingiram o país, Monteiro de Barros responde: "O que aconteceu no Japão foi um acidente, mas não foi nuclear. Até hoje não morreu ninguém nem vai morrer."

Nos negócios do petróleo, as coisas sempre lhe correram bem, pelo menos até esta semana, quando a empresa de refinação de que é acionista e presidente não executivo foi forçada a pedir a insolvência. Antes da Petroplus, Monteiro de Barros foi acionista da Tosco. Esta petrolífera americana cresceu através de aquisições que a tornaram na maior refinadora independente dos Estados Unidos.

Em 2001, a Tosco foi vendida à Philips. O negócio rendeu 7,3 mil milhões de dólares (5,5 mil milhões de euros) aos acionistas. Patrick era um deles, mas não se soube a fatia que recebeu.

A venda cimentou a reputação de ser um dos portugueses mais ricos, não obstante ter ficado com a fama de contar todos os tostões quando era administrador da Petrogal. A casa que comprou no estado americano da Virgínia é património histórico e foi desenhada pelo presidente americano Thomas Jefferson.

Mas apesar dos projetos de milhões que apresentou nos últimos anos, hoje terá poucos negócios em Portugal.

Monteiro de Barros foi um dos acionistas nacionais que, em 2000, venderam a participação na Galp à italiana Eni, a pedido do governo de então, mas também com a ajuda de uma isenção fiscal sobre as mais-valias. O empresário foi fundador da Telecel (hoje Vodafone) e acionista de referência da Portugal Telecom, mas vendeu. Hoje, é administrador na holding do Grupo Espírito Santo e preside à fundação da família Monteiro de Barros.

A parceria mais antiga nos negócios é com Thomas O'Mailley. O empresário americano trabalha desde os anos 70 com Patrick Monteiro de Barros, primeiro como trader de petróleo e mais tarde na Tosco.

O'Mailley foi um dos investidores iniciais do projeto de construção de uma refinaria em Sines. O milionário americano veio a Lisboa no seu jato privado Gulfstream, mas quando aterrou na Portela ficou mal impressionado por não existir um corredor exclusivo e ter de ir para a fila dos passageiros comerciais. Foi o primeiro a desistir do negócio.

O projeto de cinco mil milhões de euros começou por ser acarinhado pelo governo de Sócrates e do ministro Manuel Pinho. Mas os incentivos públicos exigidos pelos promotores, sobretudo ao nível das licenças de CO2, levaram o governo recuar. Ficou célebre a frase do primeiro-ministro no Parlamento: o governo não compra gato por lebre.

Não ficou sem resposta. Monteiro de Barros acusa Sócrates de não ter honrado os compromissos assumidos. E em entrevista ao Diário Económico contou que foi "um dos episódios mais desagradáveis por que passei neste país".

Apesar do discurso duro - Patrick não é suave nas palavras -, insistiu em mais um megaprojeto polémico: a construção de uma central nuclear em Portugal. A ideia contou com a firme oposição do governo de Sócrates. Mas nem a crise financeira nem o desastre de Fukushima o fizeram desistir. Ainda esta semana garantiu existir abertura do Executivo de Passos Coelho para estudar o tema.

Depois de falhada a refinaria em Portugal, o empresário investiu na Petroplus, mais uma vez, pela mão de Thomas O'Mailley. O grupo arrancou em 2006 com uma refinaria na Holanda e, com o apoio do fundo americano Carlyle, comprou várias unidades, transformando-se na maior refinadora independente da Europa.

Mas com a crise vieram os prejuízos e a banca recusou renovar o financiamento.

Ao pedido de insolvência juntam-se suspeitas em França de falência fraudulenta. Patrick Monteiro de Barros diz que a acusação é inconcebível e garante que não vai abandonar a empresa, que tem cinco refinarias a operar na Europa e emprega 2500 trabalhadores. Monteiro de Barros sucedeu a O'Malley em 2011 como chairman, mas não se sabe qual é o seu investimento na Petroplus.

Monteiro de Barros nasceu em 1945 de mãe francesa e pai português. Estudou no Liceu Francês e fala várias línguas. É casado há 47 anos com uma francesa e tem um filho.

Divide a sua vida pelos Estados Unidos, Londres e Cascais, onde vive três meses por ano.

Mas é no mar que gosta de passar mais tempo e onde já deu várias voltas ao mundo no seu iate. Fanático da vela, foi o rosto da candidatura portuguesa a organizar a Taça América em 2007. Foi mais um projeto ambicioso apoiado pelo governo, mas que Portugal perdeu para Valência. A taça acabou por passar por Cascais em 2011. Hoje, há um troféu de vela em Cascais com o nome dele.


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