Casa Pia: Ex-alunos pagos para mudar testemunhos
Duas das vítimas do processo Casa Pia que a defesa dos arguidos invocou, no ano passado, para tentar demonstrar que o processo não teria passado de uma montagem colectiva de antigos alunos da instituição admitiram ao SOL que mentiram a troco de dinheiro e droga.
Os arguidos, já condenados pelas Varas Criminais de Lisboa, haviam requerido, na fase de recurso da sentença para o Tribunal da Relação, a junção ao processo de entrevistas dadas por estas duas testemunhas ao jornalista freelancer Carlos Tomás – o que foi recusado pelos magistrados.
Uma dessas vítimas, Ricardo Oliveira, hoje com 30 anos, que acusou os arguidos Carlos Cruz e Jorge Ritto, entre outros, diz agora querer «voltar a viver de rosto erguido». E revela que Carlos Tomás – que também entrevistou Carlos Silvino (o único a admitir os crimes de pedofilia com rapazes da Casa Pia) e outras duas vítimas, para desmentirem tudo o que tinham dito durante o processo – estaria a ser «pago» pelo ex-apresentador de televisão e outros arguidos.
Mas as acusações vão mais longe: Ricardo sustenta que foi o próprio advogado de Cruz, Ricardo Sá Fernandes, quem, num telefonema para Carlos Tomás no dia da entrevista, terá industriado o jornalista sobre as matérias que o jovem teria de referir.
Em apoio ao que afirma, a testemunha da Casa Pia gravou um telefonema com Tomás: a pretexto de lhe pedir dinheiro, perguntou-lhe se ainda mantinha contacto com os arguidos, ao que o jornalista respondeu: «Nunca mais falaram comigo. Nem ele [Carlos Cruz], nem o [médico Ferreira] Diniz, nem o [ex-vice-provedor adjunto da Casa Pia, Manuel] Abrantes. Depois do acórdão, nunca mais falaram comigo. Eu até estou admirado, porque se houver a repetição do julgamento eles vão precisar de vocês».
Contactado pelo SOL, Sá Fernandes refuta as acusações: «Só soube da entrevista do Ricardo Oliveira depois de ela ter sido dada. E não acredito que algum dos arguidos tenha pago a estas testemunhas», diz o advogado, acrescentando que espera que os jovens «sejam é novamente ouvidos em tribunal», conforme a defesa pretende, para esclarecer tudo de uma vez
Logo depois do contacto do SOL para o advogado, Ricardo Oliveira recebeu um telefonema de Carlos Tomás, a confrontá-lo com o que o jornal acabara de perguntar ao advogado de Carlos Cruz.
Por seu turno, quando contactado pelo SOL, Carlos Tomás garantiu: «É mentira, não paguei nada a ninguém. E se falo com os arguidos é no âmbito do meu trabalho de jornalista». E concluiu prometendo que vai processar o SOL.
por Felícia Cabrita
5 de Abril de 2012
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=46033
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