Saturday, 7 April 2012

CASA PIA: RICARDO UMA VIDA DE SEXO E DROGAS


Casa Pia: Ricardo, uma vida de abuso e drogas 

A droga com a qual Ricardo Oliveira diz ter sido comprado é afinal um parente antigo na sua vida. Filho de uma prostituta presa à heroína, nasceu a ressacar. Cresceu entre amas e tascos, e dormia nos carros dos proxenetas até a mãe, Ana Oliveira, já pela manhã, abandonar as ruas.

Em 1988, com apenas cinco anos, uma ama com pena do menino consegue interná-lo na Casa Pia, onde a sua sorte acabaria por mudar, mas para pior. Passados três anos de internamento na instituição do Estado, é o próprio corpo, que deixara de controlar, a revelar os abusos de que vinha sendo alvo por parte do funcionário Carlos Silvino. Passa a esconder a roupa interior ou, como a vergonha lhe paralisava a palavra, para chamar a atenção, a atirar as fezes contra as paredes.

Quando a mãe morre de overdose , já Ricardo mudara das mãos de Silvino para outras mais ilustres. Passa a frequentar casas onde é abusado por homens como Carlos Cruz e o embaixador Jorge Ritto, que o estrearam nas drogas.

A sua vida foi uma montanha russa. Não tinha mais de 10 anos quando, com outros colegas da Casa Pia, entrou na indústria da pornografia infantil. Jean Manuel Vuillaume, pedófilo francês ligado a uma rede internacional, conhecida por ‘Toro Bravo’, que viria a ser desmantelada em 1994 pelas autoridades francesas e que já era referenciado em Portugal pelos Serviços de Informações de Segurança (SIS), tinha carta branca para entrar nas instalações da Casa Pia. Ricardo e Nuno Miguel, outro casapiano, rodaram durante cinco anos uma série de oito vídeos intitulada ‘Paradis Naturiste’, um deles numa das colónias de férias da instituição, em Colares. Os meninos tornaram-se populares na Gaie France Magazine , revista ligada à rede pedófila, onde se publicitavam os filmes.

O universo lúdico da infância sempre foi estranho a Ricardo. Cresceu entre drogas e com os bolsos cheios de dinheiro – até que passou a adolescência, perdeu o corpo infantil e deixou de despertar cobiça. Estava sozinho, tinha apenas a droga como companheira, e daí a prostituir-se no Parque Eduardo VII, em Lisboa, para conseguir dinheiro, foi um passo. Aos 18 anos, saiu da Casa Pia com o curso de Cozinha e Pastelaria terminado. Encontrou emprego num hotel e decidiu mudar de percurso.

Quando o escândalo rebentou, em 2003, estava a endireitar a vida e afastado das drogas. Tornou-se uma das testemunhas do caso Casa Pia e durante os longos dez anos em que o processo correu nos tribunais manteve a mesma versão. Viveu-o com altos e baixos, mas o reencontro com o passado fê-lo várias vezes voltar ao consumo de drogas. Esteve em várias clínicas, mas não conseguiu acabar um tratamento.



 por Felícia Cabrita


5 de Abril de 2012


http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=46082

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