Mãe de Renato: 'Pus a casa à venda para pagar a defesa'
Em entrevista ao SOL, mãe de Renato Seabra fala sobre o início da relação do filho com Carlos Castro e da viagem a Nova Iorque.
Como soube da prisão do Renato?
Acordei pelas 9 horas e estava a preparar o pequeno-almoço quando uma colega me ligou a contar as notícias da televisão. Entrei em estado de choque porque ninguém me avisou, nem do hospital, nem da polícia.
O que lhe ocorreu?
Passaram-me muitas coisas pela cabeça e que o Carlos Castro devia ter feito coisas muito graves ao meu filho. Pensei ir imediatamente para Nova Iorque. Dizia para mim própria que aquilo não era verdade, que era só um pesadelo. Depois, fui para casa da minha advogada. Não sabíamos nada e até telefonámos para o telemóvel do Carlos Castro para ver se aquilo era mesmo verdade, na esperança de que alguém atendesse.
Disse que o Renato lhe ligava todos os dias.
Todos os dias, várias vezes. Eu perguntava-lhe se tinham ido a agências, ele dizia que não, que as pessoas adiavam, não tinham disponibilidade. Até que, no dia 6, comecei a achá-lo diferente. Ligou-me e disse que não tinha dormido bem, que devia ser da comida. Notei que ele não estava como nos outros dias.
Voltou a ligar-lhe no dia seguinte, dia do crime. A que horas?
Muito cedo. Eu estava a trabalhar no centro de saúde e era meio-dia e pouco - em Nova Iorque eram 7h30. Disse que não tinha dormido muito bem e falou outra vez na comida. Mas foi mais tarde que eu percebi mesmo que algo de grave se estava a passar. Nesse mesmo dia, à tarde, ligou-me de outro número, que não era do Carlos Castro, e eu atendi. Senti que era um pedido de socorro, notei pela voz dele. Disse-me que estava na loja de uma amiga que lhe emprestou o telemóvel. Disse que estava a ser pressionado, que não podia respirar e que se sentia numa prisão, e para eu lhe arranjar um voo para voltar a Portugal. Eu ainda lhe disse que ele tinha dinheiro na conta, que procurasse uma agência e comprasse o bilhete. Mas ele disse que não podia e acabou o telefonema a dizer: «Não esqueças que te amo muito, quero ir para Portugal, só junto de ti é que estou em segurança».
Sentiu-o desnorteado?
Sim, e a prova foi ele ter recorrido ao telemóvel de uma rapariga. Achei estranho ele não ter dinheiro para ir a uma cabina. Depois, disse que não podia falar mais e que ligava mais tarde. Este telefonema durou mais de cinco minutos, tenho registado. Quem é que empresta assim o telemóvel para fazer um telefonema tão caro? Espero que o advogado dê este número à polícia para vermos se aquela senhora sabe mais alguma coisa.
Por que é que ele se sentia numa prisão?
«Não me deixam respirar» - era o que ele dizia. E quem não o deixava respirar era o Carlos Castro. Liguei à minha filha e ela foi logo à internet fazer a reserva da viagem. Depois, ainda tentei ligar para o tal número, mas o Renato nunca mais atendeu (só depois soube que estava a marcar mal o indicativo). A seguir, liguei ao Carlos Castro: O que é que o senhor lhe fez? O senhor está a fazer algo de muito mau, porque desde o primeiro instante sabia que o Renato não era homossexual e o senhor prontificou-se a respeitar a sexualidade dele . Senti que ele ficou comprometido. Só disse que voltava a ligar e desligou. Quando voltou a ligar, pedi-lhe para falar com o meu filho. O Renato só me disse: «Mãe, eu não posso falar, não posso falar, tenho de desligar». E desligou.
Chegou a dizer-lhe que já tinha conseguido o voo?
Sim, e provavelmente fiz mal. Sei lá se o Carlos Castro estava a ouvir tudo. Disse-lhe que a Joana já tinha tratado de comprar o voo e que precisava da confirmação dele. Mas senti que a pressão era de tal ordem. Acho que ele não tinha recurso a nada. Com certeza nem a carteira devia ter com ele e aquilo foi uma escapadela: recorreu a essa mulher para me pedir socorro. Porque ele tinha cartões, não precisava de pedir o telemóvel a ninguém.
Voltou a ligar?
Sim, logo a seguir. O Carlos Castro atendeu e só ouvi o meu filho alto: «Não atendas que é a minha mãe e ela não quer falar contigo». Continuei a ligar até às duas da manhã, mas já ninguém atendeu.
Como vai pagar a defesa?
Já pus a minha casa à venda e vou desfazer-me de tudo o que tenho. Há muitas pessoas a apoiarem-me e tenho fé, muita fé.
Disse que o Renato está muito fragilizado psiquicamente e não lhe contou o que se passou. Há quem pense que isso é uma estratégia de defesa.
Não vai ser essa a estratégia. Ele está mesmo muito afectado psicologicamente. São os médicos que não o deixam sair.
O que lhe disseram os médicos?
No sábado à noite, estava eu a fazer as malas para ir para Nova Iorque, recebi um telefonema do hospital. A primeira coisa que perguntei foi se ele estava vivo, pois até aí não sabia nada dele, temia o pior. Disseram para eu ter calma, que ele estava em choque psiquiátrico. Depois fizeram as perguntas normais: se ele tinha na família alguém com antecedentes psiquiátricos, se alguma vez tinha tido a nível escolar ou social alguma perturbação. Respondi que não, sempre foi um rapaz feliz, normal. Mas vi-o muito perturbado, muito perdido. Tenho muito medo que este estado possa ser irreversível. E ele precisa de mim para recuperar.
felicia.cabrita@sol.pt
23 de Janeiro, 2011Por Felícia Cabrita
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=9724
Em entrevista ao SOL, mãe de Renato Seabra fala sobre o início da relação do filho com Carlos Castro e da viagem a Nova Iorque.
Como soube da prisão do Renato?
Acordei pelas 9 horas e estava a preparar o pequeno-almoço quando uma colega me ligou a contar as notícias da televisão. Entrei em estado de choque porque ninguém me avisou, nem do hospital, nem da polícia.
O que lhe ocorreu?
Passaram-me muitas coisas pela cabeça e que o Carlos Castro devia ter feito coisas muito graves ao meu filho. Pensei ir imediatamente para Nova Iorque. Dizia para mim própria que aquilo não era verdade, que era só um pesadelo. Depois, fui para casa da minha advogada. Não sabíamos nada e até telefonámos para o telemóvel do Carlos Castro para ver se aquilo era mesmo verdade, na esperança de que alguém atendesse.
Disse que o Renato lhe ligava todos os dias.
Todos os dias, várias vezes. Eu perguntava-lhe se tinham ido a agências, ele dizia que não, que as pessoas adiavam, não tinham disponibilidade. Até que, no dia 6, comecei a achá-lo diferente. Ligou-me e disse que não tinha dormido bem, que devia ser da comida. Notei que ele não estava como nos outros dias.
Voltou a ligar-lhe no dia seguinte, dia do crime. A que horas?
Muito cedo. Eu estava a trabalhar no centro de saúde e era meio-dia e pouco - em Nova Iorque eram 7h30. Disse que não tinha dormido muito bem e falou outra vez na comida. Mas foi mais tarde que eu percebi mesmo que algo de grave se estava a passar. Nesse mesmo dia, à tarde, ligou-me de outro número, que não era do Carlos Castro, e eu atendi. Senti que era um pedido de socorro, notei pela voz dele. Disse-me que estava na loja de uma amiga que lhe emprestou o telemóvel. Disse que estava a ser pressionado, que não podia respirar e que se sentia numa prisão, e para eu lhe arranjar um voo para voltar a Portugal. Eu ainda lhe disse que ele tinha dinheiro na conta, que procurasse uma agência e comprasse o bilhete. Mas ele disse que não podia e acabou o telefonema a dizer: «Não esqueças que te amo muito, quero ir para Portugal, só junto de ti é que estou em segurança».
Sentiu-o desnorteado?
Sim, e a prova foi ele ter recorrido ao telemóvel de uma rapariga. Achei estranho ele não ter dinheiro para ir a uma cabina. Depois, disse que não podia falar mais e que ligava mais tarde. Este telefonema durou mais de cinco minutos, tenho registado. Quem é que empresta assim o telemóvel para fazer um telefonema tão caro? Espero que o advogado dê este número à polícia para vermos se aquela senhora sabe mais alguma coisa.
Por que é que ele se sentia numa prisão?
«Não me deixam respirar» - era o que ele dizia. E quem não o deixava respirar era o Carlos Castro. Liguei à minha filha e ela foi logo à internet fazer a reserva da viagem. Depois, ainda tentei ligar para o tal número, mas o Renato nunca mais atendeu (só depois soube que estava a marcar mal o indicativo). A seguir, liguei ao Carlos Castro: O que é que o senhor lhe fez? O senhor está a fazer algo de muito mau, porque desde o primeiro instante sabia que o Renato não era homossexual e o senhor prontificou-se a respeitar a sexualidade dele . Senti que ele ficou comprometido. Só disse que voltava a ligar e desligou. Quando voltou a ligar, pedi-lhe para falar com o meu filho. O Renato só me disse: «Mãe, eu não posso falar, não posso falar, tenho de desligar». E desligou.
Chegou a dizer-lhe que já tinha conseguido o voo?
Sim, e provavelmente fiz mal. Sei lá se o Carlos Castro estava a ouvir tudo. Disse-lhe que a Joana já tinha tratado de comprar o voo e que precisava da confirmação dele. Mas senti que a pressão era de tal ordem. Acho que ele não tinha recurso a nada. Com certeza nem a carteira devia ter com ele e aquilo foi uma escapadela: recorreu a essa mulher para me pedir socorro. Porque ele tinha cartões, não precisava de pedir o telemóvel a ninguém.
Voltou a ligar?
Sim, logo a seguir. O Carlos Castro atendeu e só ouvi o meu filho alto: «Não atendas que é a minha mãe e ela não quer falar contigo». Continuei a ligar até às duas da manhã, mas já ninguém atendeu.
Como vai pagar a defesa?
Já pus a minha casa à venda e vou desfazer-me de tudo o que tenho. Há muitas pessoas a apoiarem-me e tenho fé, muita fé.
Disse que o Renato está muito fragilizado psiquicamente e não lhe contou o que se passou. Há quem pense que isso é uma estratégia de defesa.
Não vai ser essa a estratégia. Ele está mesmo muito afectado psicologicamente. São os médicos que não o deixam sair.
O que lhe disseram os médicos?
No sábado à noite, estava eu a fazer as malas para ir para Nova Iorque, recebi um telefonema do hospital. A primeira coisa que perguntei foi se ele estava vivo, pois até aí não sabia nada dele, temia o pior. Disseram para eu ter calma, que ele estava em choque psiquiátrico. Depois fizeram as perguntas normais: se ele tinha na família alguém com antecedentes psiquiátricos, se alguma vez tinha tido a nível escolar ou social alguma perturbação. Respondi que não, sempre foi um rapaz feliz, normal. Mas vi-o muito perturbado, muito perdido. Tenho muito medo que este estado possa ser irreversível. E ele precisa de mim para recuperar.
felicia.cabrita@sol.pt
23 de Janeiro, 2011Por Felícia Cabrita
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=9724
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