Acusação sugere que Renato Seabra fingiu problemas mentais
A acusação no caso Carlos Castro sugeriu esta quarta-feira que Renato Seabra, acusado do homicídio do colunista, em Nova Iorque, fingiu ter problemas mentais após encontros com o seu advogado.
A procuradora Maxine Rosenthal prosseguiu hoje o interrogatório do psicólogo clínico Jeffrey Singer, testemunha da defesa, que atestou, em sessões anteriores, que Seabra não teve consciência do violento homicídio de 7 de Janeiro de 2011, por estar num estado psicótico, uma justificação usada pela defesa, para que seja considerado não culpado.
Nas primeiras horas de internamento na ala psiquiátrica do Hospital Bellevue, Seabra esteve sob vigilância constante por risco de suicídio, tendo sido observado o seu estado a cada 15 minutos, e foi recorrendo a estes registos que Ronsenthal tentou demonstrar que o arguido esteve quase sempre normal e calmo.
Perante os jurados, a procuradora sublinhou que os registos mostram que Seabra passou a maior parte do tempo a descansar, dormir, ver televisão, jogar xadrez ou pingue-pongue e que os seus comportamentos mais bizarros tiveram lugar logo após visitas do advogado ou da família.
Estes comportamentos, registados pelo pessoal hospitalar, incluíram identificar-se como "Abacaba" ou "Jesus", despir-se em público e fazer exercício, vestir-se de "super-herói", dizer ouvir vozes e receber "mensagens" dos livros, e anunciar querer matar todo o pessoal do Hospital.
Questionado por Rosenthal se alguém poderia comportar-se assim para se "fingir de louco", o psicólogo afirmou que tal "depende da pessoa e de muitas outras coisas"."Também é consistente com desordem bipolar", a doença mental que estará na origem do surto psicótico que levou ao crime, disse Singer.
Escudando-se em relatórios psiquiátricos, o especialista afirma que, na altura do crime, o jovem "estava em pensamento delirante, num episódio maníaco e desordem bipolar, com características psicóticas graves" e, como tal, não deve ser considerado culpado.
A defesa argumenta que foi a doença mental a levar ao crime, após o qual o jovem se passeou pelas ruas da cidade num estado de alucinação, tocando nas pessoas. A acusação sustenta que foi "raiva, desilusão e frustração" a levar Renato Seabra a matar o colunista social, directamente ligada ao fim da relação.
No final da sessão da manhã em tribunal, o advogado de defesa, David Touger, dizia que já esperava que a acusação tentasse mostrar que houve fingimento da parte de Seabra. "Peço-vos, porém, que verifiquem os registos, vejam o que dizem", afirmou o advogado David Touger aos jornalistas.
Jeffrey Singer elaborou o seu relatório com base nos diagnósticos das três instituições psiquiátricas por onde passou Seabra, assim como numa entrevista ao jovem, em que este falou de um estado de confusão mental, nos três dias antes do crime, debatendo-se com a condição de homossexual.
Sobre o momento do violento crime, disse que, depois do primeiro ataque, Castro "ainda respirava de maneira pesada", o que o assustou por pensar "que era o diabo que ia voltar à vida", e que só poderia matá-lo se mutilasse os seus órgãos genitais.
"Foi louco, demasiado rápido. Estava louco porque sou o tipo de pessoa que nunca entrou numa luta", relatou, segundo Singer. Numa entrevista a um psiquiatra contratado pela defesa, Seabra afirmou que "vozes" lhe disseram para cortar os seus próprios pulsos e que o sangue da vítima dar-lhe-ia o poder para curar as pessoas da homossexualidade.
As várias horas de duração do crime, disse Singer, mostram o "estado psicótico" em que se encontrava Seabra, tal como o facto de se ter arranjado antes de sair do quarto. Outra indicação de psicose, afirmou, é o relato feito à polícia e nos registos do hospital de ter tentado tocar nas pessoas para as "curar".
Os registos hospitalares, defendeu Singer, documentam um "estado maníaco psicótico agudo", logo depois do crime, e muito depois disso.
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