Terramoto no Japão: Explosão em central de Fukushima faz temer repetição de Chernobyl
Um dia depois de sofrer o impacto do mais violento terramoto de que há memória no país, seguido de um tsunami com ondas de 10 metros, o Japão vivia ontem momentos de caos, desespero e pânico ante a possibilidade de uma central nuclear em Fukushima soltar para a atmosfera uma nuvem radioactiva mortífera.
Ontem ao início da tarde, madrugada em Lisboa, uma explosão destruiu a protecção de betão do edifício do reactor Daiichi 1, fazendo recear uma tragédia nuclear semelhante à de Chernobyl em 1986. Para já, o nível de gravidade da fuga foi colocado em quatro, numa escala cujo máximo, sete, foi justamente o atingido aquando do acidente na central ucraniana.
As autoridades ordenaram a retirada de 140 mil pessoas da área de risco, 240 km a norte de Tóquio, e realizaram medições de radioactividade a todos os residentes, separando os que revelam sinais de contaminação. Além disso, distribuíram iodo para combater os efeitos cancerígenos da radiação.
Os peritos asseguram que não há risco de fuga radioactiva grave e acrescentam que o arrefecimento do reactor está a ser conseguido com recurso a água do mar. Mas, se o núcleo do reactor fundir, a gravidade da fuga dependerá do sentido do vento. Se soprar de Noroeste, afasta a radioactividade para o mar. Ontem, soprava de Sul.
Entretanto, noutras regiões devastadas pelo tsunami, faz-se já sentir escassez de víveres, medicamentos, água potável e abrigos para o frio, que à noite atinge temperaturas negativas.
No Norte e Leste do Japão, cerca de 300 mil pessoas vivem em abrigos, reunindo-se em torno de fogueiras à chegada da noite. "Parece a cena de um filme de catástrofe", contou um residente de Sendai, cidade capital da prefeitura de Miyagi, a mais castigada pelo impacto da onda gigante.
QUASE 10 MIL POR LOCALIZAR EM VILA DA REGIÃO DE MIYAGI
As autoridades japonesas estimavam ontem que o número de mortos no terramoto e tsunami que atingiu o país ultrapasse já os 1700. Mas os números da tragédia podem revelar-se bem mais dramáticos, pois só em Minami Sanriku, na prefeitura de Miyagi, a mais castigada pelo tsunami, pelo menos 9500 dos 17 mil habitantes da povoação estão em paradeiro incerto.
Os números oficiais dão conta de 703 mortos confirmados e 784 desaparecidos. A estes números não são somados, para já, os 9500 residentes de Minami Sanriku por não ser claro quantos terão escapado pelos seus próprios meios para localidades vizinhas.
Entretanto, quatro comboios nas prefeituras de Miyagi e Iwate estão dados como desaparecidos, ignorando-se se eram composições de passageiros ou de mercadorias.
As estimativas dos estragos também não são ainda muito claras, mas calcula-se que pelo menos 3400 edifícios tenham sido arrasados e há notícia de mais de 200 incêndios nas áreas de maior impacto do sismo, no Nordeste do país.
Começaram, entretanto, as operações de busca e resgate de sobreviventes. Em Iwanuma, perto de Sendai, capital de Miyagi, um enorme SOS foi escrito no telhado de um hospital, um de muitos sinais de desespero de pessoas isoladas em edifícios cercados por água.
EQUIPAS DE AJUDA HUMANITÁRIA JÁ A CAMINHO
O Japão aceitou ofertas de ajuda da ONU e de sete países, entre eles Austrália, Nova Zelândia, México e EUA, que envia 200 especialistas, incluindo médicos. Os restantes países reuniram 217 peritos, além de 22 toneladas de material médico. A ONU envia sete peritos em avaliação e coordenação de meios em áreas de desastre. O governo japonês mobilizou, por seu lado, 50 mil soldados e equipas de resgate para busca de sobreviventes e assistência aos desalojados. As equipas são apoiadas por 190 aviões e 25 barcos.
DISCURSO DIRECTO
"PODE SER UM NOVO CHERNOBYL": Francisco Ferreira, Ex-presidente da Quercus
Correio da Manhã - Há risco de catástrofe nuclear no Japão?
Francisco Ferreira - Não há certezas. Ontem dizia-se que a pressão no reactor estava controlada, mas tudo depende da capacidade de se manter a temperatura num nível seguro.
- Qual é o pior cenário?
- A fusão do combustível nuclear. Nesse caso, a zona de contenção deixa de existir e passa-se a uma situação de fuga radioactiva descontrolada. Seria algo próximo do que aconteceu em Chernobyl.
Por:F. J. Gonçalves com agências
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