Japão: Vive-se um autêntico cenário de apocalipse em Fukushima
Pânico em Tóquio com nuvem radioactiva
Quatro dias após o terramoto e o tsunami que desencadearam o mais grave acidente nuclear desde Chernobyl, o Japão mergulha no caos. Com cidades inteiras varridas do mapa, milhares de mortos e desaparecidos e a maior parte das infra-estruturas destruídas ou danificadas, teme-se o pior. Explosões em três dos quatro reactores da central de Fukushima - Daiichi, outras centrais danificadas e a impotência para conter a radiação levam os japoneses a não confiarem mais nas palavras tranquilizadoras do governo, e muitos fogem já da capital, Tóquio.
Na central de Fukushima vive-se o pesadelo. Todos os esforços para arrefecer os núcleos dos reactores falham, e as explosões sucedem-se. Ontem, o único reactor que não apresentava problemas, o número 4, incendiou-se. As chamas foram rapidamente extintas, mas, horas depois, reacendeu-se o incêndio. Refira-se que horas antes, o número 2 explodira, lançando para a atmosfera uma quantidade indeterminada de partículas radioactivas. As autoridades exortam a população em redor de Fukushima, num total de 140 mil pessoas, a que se mantenha fechada em casa. Na central, apenas ficaram 50 dos 800 trabalhadores.
Com nível de radioactividade dez vezes superior ao normal em Tóquio, com 13 milhões de habitantes, são muitos os que já abandonam a cidade. Outros preparam-se para o fazer, correndo para os supermercados e gasolineiras, onde falta combustível. O governo confirma o perigo e não descarta novas fugas radioactivas, mas diz que os níveis de radiação estão a diminuir. Os organismos internacionais não estão tão optimistas: o comissário europeu da Energia, Günther Oettinger, fala mesmo em "apocalipse".
PORTUGUESA VOLTA COM MEDO
Chegou ontem à noite ao aeroporto de Lisboa a primeira portuguesa que abandonou o Japão após o alarme de perigo nuclear. Zita Marinho, de 24anos, que estagiava em Nanotecnologia na Universidade de Tóquio, regressou porque, segundo disse ao CM, sentiu receio . Adiantou que não teve dificuldade em arranjar voo, apesar de milhares de estrangeiros estarem a sair do Japão.
BOLSAS TEME EFEITO DO SISMO
Após o terramoto de dia 11, o Japão enfrenta agora um sismo económico. O Banco do Japão injectou 202 mil milhões de euros na economia para atenuar os efeitos económicos da tragédia, mas as principais bolsas europeias fecharam ontem em queda, reflectindo a preocupação dos mercados. Em Paris, Londres, Madrid e Frankfurt, os indicadores tiveram quedas entre 2,64 e 3,72%.
MULHER E JOVEM RESGATADOS
No impressionante cenário de destruição causado pela tragédia, equipas de resgate retiraram ontem com vida dos escombros de sua casa, em Otsuchi, uma mulher de 70 anos.
O filho da idosa afirmou ter tentado, sem êxito, salvar a mãe. "Não pude levantá-la, e ela não pôde escapar porque as suas pernas não estão em condições", declarou. A mulher, com hipotermia, foi transportada para o hospital, aparentando não correr perigo de vida. Agora, o filho está um pouco mais aliviado, mas ainda bastante apreensivo pelo facto de o pai estar desaparecido.
Além de Sai Abe, também um jovem foi resgatado na mesma região. O sobrevivente, na casa dos 20 anos, foi retirado de um edifício, em Ishimaki, depois de elementos das equipas de busca e salvamento terem ouvido os seus pedidos de ajuda. A situação dos sobreviventes agravou-se com a chegada da uma frente fria, prevendo-se a queda de neve para os próximos dias, o que deverá intensificar mais ainda o drama humano.
TESTEMUNHO: Pedro Henriques, Treinador de Futsal do Nagoya Oceans
VOU REGRESSAR A PORTUGAL
Hoje sentimos um sismo violento. Estava na altura em casa a jantar com a minha mulher, e abanou tudo. Ao todo, deve ter durado uns trinta segundos. Pelo que vi, teve uma intensidade de 6,0 na escala de Richter. O epicentro parece ter sido em Shizuoka, muito perto aqui de Nagoya. As previsões apontam para novo sismo de grande intensidade amanhã [hoje], pelo que sinto algum receio.
Em Nagoya, o novo abalo não causou perturbações notórias, mas em Tóquio, onde também foi sentido, o Metro e os comboios têm parado com frequência.
Quanto à situação nuclear, continua instável. O governo repete que está tudo controlado, mas hoje [ontem] houve nova explosão em Fukushima e fala-se num grande aumento da radioactividade.
Devido a toda esta situação de incerteza, decidi antecipar o meu regresso a Portugal. Tinha viagem marcada para domingo mas antecipei-a para sexta--feira. Nessa altura, regressa também o Ricardinho e os outros elementos portugueses da equipa técnica do Nagoya Oceans. Até lá, esperamos todos que as coisas corram pelo melhor.
16 Março 2011 Por:Paulo Madeira
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