Apesar do reconhecimento que obteve, Carlos Castro era descrito pelos amigos como uma pessoa simples. Aos 65 anos, o cronista social gostava de passar despercebido na rua, preferia estar em casa de pantufas do que nas badaladas festas do social e era capaz de passar horas só a brincar com a gata, Romy, que lhe tinha sido oferecida há um ano.
"Nos últimos tempos, só ia a algumas festas e porque tinha de fazer crónicas de social, que eram o seu sustento. Dizia que estava farto de ver sempre as mesmas pessoas e que preferia estar em casa, a ler o seu livro, ou num jantar caseiro com amigos. Fazia uma boa feijoada e um óptimo arroz de pato. Cozinhava muito bem e gostava de receber", começa por contar o amigo de há vários anos, Eládio Clímaco.
"Nos últimos tempos, só ia a algumas festas e porque tinha de fazer crónicas de social, que eram o seu sustento. Dizia que estava farto de ver sempre as mesmas pessoas e que preferia estar em casa, a ler o seu livro, ou num jantar caseiro com amigos. Fazia uma boa feijoada e um óptimo arroz de pato. Cozinhava muito bem e gostava de receber", começa por contar o amigo de há vários anos, Eládio Clímaco.
Preocupado com a saúde, o homem que foi brutalmente assassinado por Renato Seabra, de 21 anos, em Nova Iorque, temia que uma doença grave o matasse e, atento às oscilações da balança, não se deixava levar por refeições calóricas. "Gostava muito de salmão, por exemplo, mas não era um gourmet. Aliás, o Carlos estava sempre em dieta e até quando ia a alguns dos seus restaurantes favoritos, como a Bica do Sapato ou o Alcântara Café, era mais para ver gente bonita do que para comer bem. Adorava caipirinha, mas raramente bebia, por questões de saúde. "
"Tinha muito medo de adoecer", revela uma das suas melhores amigas, Lili Caneças, enquanto o jornalista e escritor Guilherme de Melo garante mesmo que Carlos Castro tinha a mania das doenças: "Era hipocondríaco. Telefonava-me muitas vezes a pedir-me conselhos de saúde, que estava com a tensão alta e não sabia o que havia de fazer." Problemas acentuados à medida que, por circunstâncias da vida, o cronista foi perdendo alguns dos amigos mais chegados.
Nos últimos tempos, contam, os problemas de saúde tinham sido temporariamente esquecidos em prol da paixão. Desde que tinha conhecido Renato Seabra que Carlos não escondia o brilho no olhar e, aos mais chegados, confessava-se profundamente apaixonado pelo jovem que haveria de o matar.
"Neste Natal, disse-me que tinha encontrado a alma gémea, a outra metade da laranja. Eu alertei-o para ter cuidado, porque havia pessoas que se aproximavam dele por interesse e lhe davam a entender que sentiam coisas que não eram verdade, mas ele disse-me que o Renato era de boas famílias, que o adorava e lhe mandava mensagens carinhosas. E eu calei-me", acrescenta o jornalista.
VIDA DE LUXO
Aos 65 anos, Carlos Castro conquistou um estilo de vida que nunca tinha imaginado quando, ainda miúdo, era maltratado pelo pai e vivia no limiar da pobreza, em Angola, juntamente com os seus seis irmãos. No início da década de 90, chegava a ganhar até cerca de dez mil euros por cada desfile que organizava, rendimentos que lhe permitiram comprar um T1 nas Amoreiras por 250 mil euros, que vendeu posteriormente.
Actualmente, o cronista vivia num luxuoso apartamento arrendado nas Twin Towers, em Lisboa, viajava pelo Mundo, onde tinha acesso aos espectáculos mais caros, e tinha conseguido o reconhecimento de figuras de topo da nossa sociedade, muitas delas que ajudou a lançar. A primeira entrevista de Judite de Sousa foi dada a Carlos Castro e, segundo conta Lili Caneças, muitas outras figuras se tornaram conhecidas pela sua mão, inclusivamente ela própria.
"O Carlos ajudou muita gente e nunca pediu nada em troca. A Marisa Cruz, a Carla Caldeira, os Excesso e eu própria fomos pessoas que ele ajudou a lançar", diz, numa lista à qual Guilherme de Melo junta ainda mais nomes: "A Maya. E há uma série de modelos que ele ajudou na carreira."
Com um grupo de amigos enorme, nenhuma figura do social ficava indiferente ao cronista, especialmente quando a língua afiada de Carlos Castro os visava com algumas críticas. Com ódios de estimação, chegou a zangar-se com Bárbara Guimarães e Cláudio Ramos, mas a verdade é que os tempos de cólera acabavam por não durar mais do que algumas semanas. No final, fazia quase sempre as pazes com os visados e, no caso da apresentadora da SIC, da desavença, os dois acabaram mesmo por construir uma sólida amizade.
HOMEM GENEROSO
Carlos Castro nunca esquecia os amigos mais chegados e, em alturas simbólicas como o Natal, juntava em sua casa todos aqueles que, já sem família, estavam destinados a passar a quadra sozinhos. "Ele era extremamente generoso e solidário. Há três anos, quando a minha irmã faleceu, o Carlos disse-me que, a partir dessa altura, passaria sempre o Natal em sua casa, pois ele e as irmãs seriam a minha família. E fez o mesmo com o Victor de Sousa, quando no ano passado este perdeu a mãe", adianta Guilherme de Melo.
Mas os gestos nobres não se ficam por aqui. Quando convidava, era sempre ele quem pagava o jantar, e no dia em que a cantora Lena d’Água lhe confessou, através do Facebook, que o regresso aos palcos a ia ajudar a dar uma reforma ao velho fogão, Carlos não perdeu tempo. "No dia do meu aniversário, recebi em casa um novo, oferecido por ele", confessa a cantora.
Mas o cronista era também um homem que gostava de se mimar. Vaidoso assumido, chegou a fazer um lifting à pele e perguntava frequentemente aos amigos se determinada peça de roupa lhe ficava bem. Apaixonado pela criação, não faltava a uma edição da Moda Lisboa, mas na altura de comprar mostrava-se bem mais conservador. "Ele adorava camisas aos quadrados e, se via uma de que gostasse, era capaz de comprar logo quatro iguais, assim como calças", recorda Eládio Clímaco.
15-01-2011
http://www.vidas.xl.pt/noticia.aspx?channelId=83c1118f-0a09-426d-88d0-7a0980df951a&contentId=95c3aad4-424a-42ae-8351-fd23421a5aec
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