Monday, 10 January 2011

CASTRAÇÃO INDICIA CRIME PASSIONAL

POLÍCIA

A mutilação genital parece indiciar uma relação amorosa ou sexual entre vítima e agressor, na opinião do especialista em Psicologia Forense Carlos Poiares, que considera fundamental fazer a autópsia psicológica do crime que vitimou Carlos Castro.

"A amputação dos genitais é um acto de grande simbolismo que parece remeter para uma conflitualidade sexual ou afectiva", considera o especialista. Trata-se de "um acto de violência extrema, que não é exclusivo das relações homossexuais", explica Poiares, que recorda vários casos de mulheres que castraram maridos ou companheiros.

"Quem perpetrou o crime pretende reflectir uma violência muito intensa em relação a um conteúdo sexual, como a homossexualidade, por exemplo", defende, por seu lado, o psicólogo forense Rui Abrunhosa Gonçalves, que recusa a ideia de que a mutilação sexual signifique linearmente que existia uma relação de teor afectivo ou sexual entre quem praticou o crime e a vítima.

Até porque, sublinha, "é mais o que se desconhece do que o que se sabe" e se têm aparecido várias pessoas que relatam o enamoramento de Carlos Castro pelo jovem, ninguém tem falado dos sentimentos de Renato pelo colunista social.

Para o professor da Universidade do Minho, só a avaliação psicológica do suspeito e o apuramento de todos os factos poderá esclarecer este crime. A avaliação a que Renato Seabra vai ser objecto deverá ajudar a esclarecer, por exemplo, se a alegada tentativa de suicídio se tratou efectivamente de uma tentativa de terminar com a vida ou de uma manobra para aparentar uma perturbação que aligeire responsabilidades criminais.

Carlos Poiares sublinha também a importância de se fazer a autópsia psicológica, isto é, de se perceber as circunstâncias afectivas e relacionais que ligavam os dois homens.

"É fundamental compreender o eixo de poder da relação, já que a violência é a exacerbação do poder", defende o especialista, acrescentando que a diferença de idade e de estatuto social indicavam tratar-se de uma relação assimétrica. "Um, talvez exibisse estatuto social e económico; o outro, talvez ostentasse juventude e beleza. Parece haver um certo mercantilismo relacional", considera.

Para o criminologista José Barra da Costa, a utilização de objectos cortantes - que, em sua opinião, caracteriza os actos de violência praticados entre homossexuais - simboliza o corte, radical e definitivo, que se pretende fazer à relação.

Sentimento de posse, não aceitação da própria orientação sexual, ameaça de divulgação da relação (quando não assumida), vingança e ciúmes são alguns dos factores que subjazem a crimes passionais entre pessoas do mesmo sexo, segundo o antigo inspector da Polícia Judiciária, que considera relevante para a compreensão do caso saber se a mutilação genital foi realizada em vida ou post-mortem. Barra da Costa defende, por outro lado, que motivações económicas podem também ajudar a explicar este brutal homicídio.

HELENA NORTE

http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Policia/Interior.aspx?content_id=1753210&page=-1

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