Tuesday, 11 January 2011

"JÁ NÃO SOU GAY"

"Já não sou gay." A frase terá sido dita por Renato Seabra, depois de ter confessado à polícia de Nova Iorque ser o autor do homicídio de Carlos Castro. A informação avançada ontem pelo "New York Post" terá caído como uma bomba entre os familiares que nos últimos dias defenderam sempre a sua inocência. Rapaz simples, racional e muito focado nos seus objectivos. Quem conhece Renato Seabra, 21 anos, descreve-o assim: um jovem ambicioso mas muito fechado e introspectivo. Há uma semana, ligou para a família e confessou estar farto das férias em Nova Iorque. Em conversa com a mãe, mostrou-se desiludido com a passagem de ano, que disse não ter sido "nada de especial", e manifestou o desejo de regressar a casa. O voo que o traria de volta a Portugal já estava marcado, mas nem ele nem Carlos Castro embarcaram. Quatro horas depois de ter cometido o crime, Renato foi detido pelas autoridades americanas num hospital da cidade. Tinha os pulsos parcialmente cortados e confessou ter assassinado o cronista social, com quem manteria um relacionamento amoroso.

Em entrevista ao i, um representante da polícia de Nova Iorque disse que Renato Seabra estava formalmente acusado de homicídio em segundo grau. "Foi preso na sequência da investigação a uma chamada de emergência para um hotel em Times Square", avançou o agente, acrescentando que o óbito foi declarado pouco depois da chegada das autoridades ao quarto 3416, onde o casal estava hospedado. Carlos Castro encontrava-se prostrado no chão, totalmente despido, apresentava ferimentos na cabeça e tinha os órgãos genitais mutilados. Morreu vítima de asfixia e múltiplos traumatismos. Descontrolado, Renato agrediu-o com um computador, estrangulou-o e mutilou-o com um saca-rolhas, num acto de tortura que demorou quase uma hora.

Minutos antes do crime, alguns hóspedes do 34.o piso testemunharam uma violenta discussão entre os dois. Mas recolheram ao quarto, sem avisar a recepção. Mónica Pires foi quem deu o alerta, depois de Carlos Castro se ter atrasado para um encontro que tinha marcado com a filha do jornalista Luís Pires. Foi também ela que viu Renato Seabra sair do elevador, altura em que este lhe disse: "O Carlos já não sai do quarto."

"Já não sou gay" Quatro horas depois do crime, Renato Seabra foi internado num hospital com os pulsos cortados. Terá sido o taxista que o transportou a avisar as autoridades, depois de ter visto a fotografia do suspeito na televisão. Quando a polícia chegou à ala psiquiátrica, para onde foi transferido, o jovem terá confessado o crime, que cometeu para se "livrar dos demónios e do vírus". "Já não sou gay", acrescentou.

Carlos Castro conheceu Renato Seabra no Facebook uns meses antes do trágico desfecho. E embora tenha manifestado aos amigos que o modelo andava com um comportamento estranho, a verdade é que o cronista dizia ter encontrado a pessoa certa. "Estava muito feliz. Pouco antes de partir, confidenciou-me que andava apaixonado por uma pessoa bastante mais jovem, mas eu estava longe de imaginar que era o Renato", conta ao i o modelo Pedro Crispim, um dos jurados do programa "À Procura do Sonho", no qual Seabra foi um dos protagonistas.

Natural de Cantanhede, Renato estuda Ciências do Desporto, licenciatura que acumula com o trabalho de manequim da Face Models, de Fátima Lopes. Quem o conhece diz que é um jovem pacato e dificilmente lhe atribui a autoria de um crime desta natureza. Durante os meses que trabalhou com o manequim, Pedro Crispim, que era amigo de ambos, raramente conseguiu uma aproximação ao jovem: "É uma pessoa muito madura para a idade. Transmitia segurança no discurso, mas era também muito tímido e reservado, de difícil descodificação", revela. Características de personalidade que, segundo acredita Crispim, poderão esconder "uma sexualidade mal resolvida". "Há sempre duas pessoas: a que se dá a conhecer e a que nunca se revela. Mais tarde ou mais cedo torna-se pólvora, explode."

Numa ronda pelos cafés de Cantanhede, ninguém quer acreditar que um filho da terra possa ter cometido o crime que se tornou assunto em todas as esquinas. "Bom rapaz" ou "jovem simples que gostava de desporto" são as expressões mais ouvidas. Quanto à sua alegada homossexualidade, todos negam, dizendo até que Renato era "bastante mulherengo". Mas este poderá ser um detalhe importante para a investigação: "As relações que envolvem duas gerações são complicadas. Em todas há um eixo do poder, há sempre um elemento que o fixa. O facto de o Renato ser mais novo não significa que não pudesse ser o guia-padrão", disse ao i o psicólogo forense Carlos Poiares.

Caso seja considerado culpado, Renato Seabra arrisca um tempo de prisão que pode ir dos 25 anos à pena perpétua. Segundo a lei do estado de Nova Iorque, a liberdade condicional só pode ser pedida ao fim de 25 anos e, caso não seja concedida, o pedido pode ser renovado de dois em dois anos.

http://www.ionline.pt/conteudo/97864-os-demonios-renato-seabra-foram-perdicao-carlos-castro

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